Sobre borrões

Desde pequena eu escrevo desse jeito esquisito, apoiando médio, indicador e anelar na caneta, de modo que todo o resto da mão vai se arrastando pelo papel. Isso se configura em uma grande dificuldade quando me deparo com uma tinta muito fluída, ou um papel pouco absorvente: quando pulo num capricho para a próxima linha, vou deixando um grande borrão nas letras de antes. 

E isso diz muito sobre mim.

Sobre a estação Jaguaré

no trem lotado que vem
no trem lotado
que parte
Já não tem espaço em mim
pra arte

(hoje pisotearam meu Leminski)

sobre frestas

vocês ajudaram a subir as paredes
dessa casa que criei pra morar.
(não há janelas)

O que entra
não vai sair
e estou ficando cheia:

o poema é só essa frestinha,
por onde se pode espiar.