sobre cartas que nunca vou mandar

Quando nos conhecemos, você reparou nos meus olhos tristes. Acho que você foi o único que enxergou o que havia ali. Você percebeu antes de mim. Eu sei que você teve medo, todo esse tempo, de mergulhar no meu abismo. Deu um mergulho fundo, depois recuou, foi com calma, molhou os pés, quis abandonar a maresia. Mas eu sei que você enxergou o que havia ali. Eu sei porque você me disse. Eu sei porque eu te vi mergulhar. Você fez com que eu visse em mim algo que eu não sabia que existia. Foi por você, mesmo que por esses caminhos tortos, que hoje eu consigo ver no espelho meus olhos tristes, e achá-los bonitos. Você foi o primeiro a achá-los bonitos. Os verdadeiros olhos, não os que os outros viam. E mesmo que você tenha medo, e mesmo que você queira ir embora, eu não posso chorar: você me trouxe coisas tão lindas, sentimentos tão sinceros, uma consciência tão nova, que eu só te devo sorrisos, por baixo dos meus olhos tristes.

sobre a timidez

Nunca sei o que dizer-te
e o poema vai morrendo, antes de nascer.