sobre as dores as delícias vividas no apartamento 62 do edifício Magnólia

Eu gosto é de encostar os sorrisos.
Cócega
com as pontas dos dedos.
Pé com pé fazendo carinho,
esquentando.
Deitar ao contrário na cama.
O pensamento,
que vaza em sussurros.
Cigarrinho dividido,
luzes que passam no teto
e abraço na cintura à janela
da Consolação.

sobre os vestígios

Meu pai é palhaço
e gosta de filme pornô.
Um vez encontrei embaixo da cama
os vestígios:
encaracolados fios de plástico
cor de fogo.
Nunca se falou sobre esses ofícios.
Era quase sempre rude e sério
como seus ternos azul-marinho.
O tom de voz elevado:
brigava. Batia.
Nos obedecíamos sempre: eu, porque tinha medo.
Mas sabia:
as meias de bolinhas amarelas
escondidas no fundo da gaveta.
Os sons que vinham do quarto
quando eu não conseguia dormir.
O babado roxo escapando
do bolso da calça velha
esquecida no varal.
Os vestígios,
(muito mais do que o terno sério azul)
esses,
eram meu pai.

sobre silêncio

Nana, nana, nana meu neném
enquanto a dona Cuca não vem
o bicho papão do telhado
vem um dia pra pegá-lo
o boi, boi, boi
de cara preta
já tá na espreita
só esperando
você
cres
cer.