sobre os vestígios

Meu pai é palhaço
e gosta de filme pornô.
Um vez encontrei embaixo da cama
os vestígios:
encaracolados fios de plástico
cor de fogo.
Nunca se falou sobre esses ofícios.
Era quase sempre rude e sério
como seus ternos azul-marinho.
O tom de voz elevado:
brigava. Batia.
Nos obedecíamos sempre: eu, porque tinha medo.
Mas sabia:
as meias de bolinhas amarelas
escondidas no fundo da gaveta.
Os sons que vinham do quarto
quando eu não conseguia dormir.
O babado roxo escapando
do bolso da calça velha
esquecida no varal.
Os vestígios,
(muito mais do que o terno sério azul)
esses,
eram meu pai.

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